Page 466 - Amechanon_vol1_2016-18
P. 466
Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846
previamente saído da UERJ as 6h da manhã. Ao chegar, começou o alvoroço (é certo que
foram necessários alguns minutos para que se acalmassem de novo e se organizassem para
a entrada no ônibus)!
A viagem foi mais uma nova experiência, muitos ali conheciam apenas o centro de Caxias,
alguns nunca tinham ido para o município vizinho do Rio de Janeiro. Alguns tinham ido
poucas vezes, quando eram ainda mais crianças e mal lembravam do que encontrariam.
Durante o caminho tudo era um encanto: a longitude, a estrada, os rios, as motos, a
paisagem, o acidente de carro, os aviões que levantavam voo e que também pousavam no
aeroporto Galeão próximo de Caxias, o teste físico matinal dos soldados no quartel, o
teleférico no Morro do Alemão, as pessoas que passavam na rua, os trabalhadores dos
Correios fazendo greve em frente ao estabelecimento. Até a chegada ao prédio da UERJ
tudo parecia motivo de alegria.
Quando a porta do ônibus se abriu no estacionamento, todos saíram muito rápido e em
menos de um minuto não havia mais nenhuma criança dentro do ônibus. Então começaram
os comentários, as vozes alteradas demonstrando êxtase, as admirações, as curiosidades,
enfim, começaram mais uma vez as infâncias. No caminho até o elevador passamos pelo
laguinho onde ficam alguns patos e peixes, e pelas reações nos pareceu que para as
crianças a visita inteira poderia se resumir ali, de tanto encantamento que tiveram por
aquele espaço e pela presença dos animais. Claro que essa aparência logo passou, pois
depois de explorar intensamente esse lugar, elas logo se envolviam com igual intensidade
em espaços aparentemente menos atraentes, como os corredores externos, até chegar ao
Hall dos elevadores do Térreo daquele prédio imenso e imensamente cinza que ocupa boa
parte do Campus Maracanã da UERJ.
Os elevadores da UERJ metem medo a pessoas de diversa idade. São dez elevadores
grandes, com capacidade para umas 25 pessoas adultas cada um. Eles sofrem com uma
manutenção condicionada às restrições orçamentárias da Universidade e são movidos por
ascensoristas que continuamente têm seus salários atrasados. Como consequência,
raramente funcionam todos eles e algumas vezes, por uma combinação das razões
anteriores, não funciona nenhum deles. As crianças nada disso sabiam mas no momento
de subir ao elevador algumas delas sentiam medo a ponto de quase chorar, outras sentiam
adrenalina como se estivessem vivendo uma experiência radical subindo de elevador até
um décimo segundo andar, mais ou menos como crianças de outras classes sociais em
466