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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846
colocando suas perguntas até que chegamos a perceber que uma frase tinha sido escolhida
por três duplas: «A amizade ama ser cultivada». Maior foi nossa surpresa ao perceber que
as três duplas que a escolheram tinham feito exatamente o mesmo questionamento: como
se cultiva a amizade?
Decidimos então que devíamos nos ocupar dessa pergunta, tamanha coincidência. E isso
fizemos. Cada aluno queria dar sua forma de pensar, sua visão sobre esta pergunta. Mãos
levantadas, aflitas pela sua hora de falar e expor o que pensavam. Inicialmente, quase
todas as intervenções destacavam aspectos mais convencionais ou esperáveis, tais como
«o respeito», «não mentindo» ou «não roubando o dinheiro dele»... Porém, aos poucos,
alguns pareceram tomar coragem e afirmar que não gostam de ter amigos, até que Izabella
ofereceu toda uma justificativa e fundamentação a uma crítica da amizade: «dá muito
trabalho», começou dizendo Izabella, para concluir que a amizade não é interessante
porque impede a ela ficar sozinha. Assim ela conclui que «por isso tenho menos que zero
amigos».
Em meio à atividade e enquanto seus colegas colocavam e pensavam como se cuida um
amigo, Gustavo levantou a mão com expressões faciais parecidas com as de quem tem uma
curiosidade muito latente, e, quando pôde falar, perguntou: «como sabemos que somos
amigos de alguém?» A pergunta redirecionou a conversa. Muitos colegas tentaram mas
não conseguiram... Houve silêncio enquanto pensamentos e indagações reverberavam
também em alguns adultos... Várias alternativas foram desconsideradas e ficou uma
espécie de silêncio, de não saber...
Enfim, Gustavo não obteve resposta a sua pergunta. Suas expressões faciais
permaneceram abertas dando mostras de espanto, curiosidade, estase... Assim, acontece
com algumas das perguntas que nos fazemos, adultos e crianças: as fazemos e não
encontramos resposta; as continuamos a fazer e seguimos sem encontrar resposta e,
mesmo assim, as voltamos a fazer. De fato, na aula do dia seguinte, novamente Gustavo
realizou a mesma pergunta na escola. E a pergunta voltou a ficar sem resposta. E
certamente voltará a ser pensada uma e outra vez.
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