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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846
Notas finais, notas iniciais: a filosofia e seu encontro com a infância
No dia seguinte, voltamos a falar sobre a visita feita à Universidade na escola. Alguns alunos
escreveram sobre o que gostaram, outros desenharam e contaram a experiência para
quem não foi. O aluno Kaiky Luis escreveu: «Eu fui para a UERJ e senti vida e amor». Nós
também sentimos. O amor e a amizade que contém a palavra filosofia e a vida que ela
ganha quando praticada num claustro ela se abre a uma escola, ao mundo, aos que habitam
o mundo do lado de fora.
Como afirma nosso amigo Giuseppe Ferraro, a filosofia é uma escola de relações 459 .A
filosofia, diz o napolitano, não permite saber isto ou aquilo, mas possibilita saber de isto ou
aquilo que te faz falar de esta e de aquela maneira, estabelecendo modos de relação
específicos ao saber e aos outros com os quais pensamos e sabemos. Não se trata de saber
o que é isto mas como isto é propriamente aquilo que é. Ou dito de outra maneira, a
filosofia é «epimeletica» e não terapêutica: ela tem a ver com a cura do cuidado, não cura
o outro mas cuida que o outro cuide de si 460 . É isso que aprendem e nos ensinam Izabella,
Gustavo, Kaiky e essa turma toda que vem nos visitar na UERJ, crianças e adultos
habitantes de uma infância não cronológica: um modo de relação consigo através dos
outros, um modo de cuidar dos outros habitando a filosofia.
As crianças e adultos que nos visitam pulam de felicidade por entrar na universidade. Nós
também. Eles dão vida à filosofia, ao pensamento, a nós mesmos. Eles são a afirmação viva
de uma prática de cuidado, de uma forma afirmativa de viver a filosofia e a infância.
Sentimos com a presença de sua infância toda a vida e amor que só sentimos quando o
pensamento filosófico abre-se à infância. Sentimos a vida e o amor de não deixar de pensar
que outros mundos possíveis são tão ou mais reais que o que se apresenta como o único
mundo real. Basta abrir as portas da casa para a infância e convidá-la a pensar junto.
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Ferraro, G., A scuola dei sentimenti, Napoli: Filema, 2010, p. 10.
460 Ibid., p. 11.
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