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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846



                   virtude. O que Sócrates descobre com sua busca é que os que se apresentam como sábios
                   se mostram a si mesmos como cheios mas de fato estão vazios de saber. No mundo da

                   filosofia, povoa uma outra forma de vazio: a ignorância é um saber, o mais sábio é quem
                   sabe que não sabe, quem sabe ignorar, sabe não saber, ignora o saber que não se sabe e

                   sabe o saber que pode permitir inventar outro saber. Vale notar que Sócrates ignora o
                   saber não como quem o desconhece mas como quem não o aceita. Sócrates sabe o que os

                   outros sabem mas não quer sabe-lo. Ignora esse saber no sentido de recusá-lo, não de
                   desconhecê-lo. Na verdade o que ele desconhece neles é a sua relação com o saber, sua

                   ausência de desejar saber. Ele sabe que os outros não desejam saber por que pensam que

                   já sabem; por isso conversa com eles para mostrar que de fato precisam se considerar
                   menos sábios e estar mais dispostos a problematizar seu saber. Assim, a filosofia nasce
                   também como rebeldia, recusa, resistência perante um modo de se relacionar com o saber

                   e  de  fazer  dele  um  poder:  paixão  de  querer  saber  e  de  no  aceitar  os  saberes  que  se

                   apresentam  assim  mesmos  como  verdadeiros  saberes  e  não  manifestam  qualquer
                   inquietação por questionar-se a si mesmos, por desejar outros saberes, por saber de outra

                   maneira.


                   Um espaço para a invenção

                   Na tradição da filosofia da educação em América Latina, destaca-se uma figura significativa
                   do século 19, o venezuelano Simón Rodríguez, a quem seu discípulo Simón Bolívar chamou

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                   de «o Sócrates de Caracas» . Rodríguez dedicou sua vida a fazer escolas, a ensinar e, como
                   o Sócrates de Atenas, é um pouco educador, um pouco filósofo; pensava que para um

                   professor-filósofo ou filosofante valia mais do que para ninguém a máxima «inventamos
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                   ou erramos» . Como ler essa frase? Há muitas possibilidades. Consideremos algumas. Por
                   um lado, para Rodriguez, a invenção é um critério para a verdade de um fazer educativo.

                   Qualquer coisa, para ser verdade na sala de aula, precisa ser inventada. Se o errar significa
                   se  afastar  da  verdade,  uma  forma  de  ler  esta  frase  seria  que  não  há  verdade  fora  da
                   invenção. Isso não significa que todas as invenções educativas são verdadeiras, mas sim

                   que  se não  inventamos,  não  podemos  encontrar  a  verdade numa  prática  educacional.

                   Rodríguez afirma que um professor ou professora deve inventar tudo o que pertence a sua



                   79  Rodríguez, S., Cartas, Caracas: Ediciones del Rectorado de la UNISER, 2001, pp. 117, 122.

                   80  Ibid., p. 185.



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