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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846
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prática: o «para quê», o «por quê», o «como» e o «que» de seu ser professor . Acima e além
de qualquer outra coisa, o professor ou professora deve inventar-se como um professor
ou professora, ele deve inventar um espaço interessante para habitar e assim poder
ensinar e aprender... essa concepção faz dele um artista de si próprio e de sua arte, um
artesão dos sentidos e das maneiras, dos caminhos para aprender e ensinar... não há
métodos ou técnicas, programas ou receitas que possam facilitar o trabalho de um
educador ou educadora, que é sempre artístico, inventivo, filosófico em sua relação ao
saber.
Por isso, essa concepção faz do professor ou professora também um filósofo ou uma
filósofa, no sentido de alguém que afirma uma certa relação apaixonadamente aberta com
o saber. Importante é também considerar o compromisso de Rodríguez com a educação
popular pois não pode haver excluídos da escola: «escola para todos porque todos são
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cidadãos» , ou seja, não é na escola que se aprende a cidadania, mas na escola, entre
cidadãos, que se aprende a viver junto. A invenção docente, por tanto, é de tipo relacional,
própria de um espaço de abertura ao outro excluído. Recordemos a etimologia da palavra
«invenção», que vem do termo latino inventus, um particípio perfeito do verbo venire mais
a preposição de lugar in, dentro, ou seja, inventus significa «que chegou ou veio dentro», é
algo que vem de fora para dentro e não de dentro para fora. A invenção não tem a ver com
um docente ou aluno empreendedor mas com um docente e um estudante atentos ao
fora, sensíveis, hospitalários.
Artista hospitalário, sensível, atento ao fora e aos sentidos que se abrem a partir dele, o
mestre inventor de S. Rodríguez é uma espécie de mestre aberto à alteridade dos outros e
do mundo, em particular, dos outros do mundo do saber, dos outros saberes do mundo.
Uma errância que ensina
Repetimos: «inventamos ou erramos» ... errar pode significar, como interpretamos na
seção anterior, o não certo, o contrário do acerto, da verdade. Assim, a invenção seria uma
forma de evitar o erro. Mas também errar pode significar deslocar-se, sair do lugar, viajar
de forma tal que seja a própria viagem que indique o ponto de chegada sem que ele seja
81 Kohan, W., El maestro inventor. Simón Rodríguez, Caracas: Ediciones del Solar, 2016.
82 Rodríguez, S., Obras Completas, Caracas: Presidencia de la República, 2001, vol. I, p. 284.
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