Page 83 - Amechanon_vol1_2016-18
P. 83

Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846



                   com o fazer o primeiro que vem na cabeça. Contudo, há que se distinguir entre preparação
                   e planificação, entre despreparo e abertura ao ainda não visto, entre fazer o primeiro que

                   vem e fazer o que os sentidos abertos trás uma longa preparação estão em condições de
                   acolher. Assim, como na música, é preciso muita preparação para poder improvisar de

                   forma interessante: muito exercício, muita prática, muita técnica apreendida para poder
                   se desprender dela e dar lugar à improvisação. Dessa forma, acontece a improvisação nas

                   artes, na música, na pintura, no teatro e na filosofia. Difícil de conceitualizar e de antecipar,
                   de  natureza  paradoxal  como  a  própria  filosofia,  ensinar  improvisando  parece  algo

                   impossível e ao mesmo tempo necessário para poder afirmar uma outra vida no campo das

                   instituições educacionais.

                   O  professor  ou  professora  improvisador,  portanto,  partilha  como  professor,  as
                   características  fundamentais  de  um  filósofo:  exige  um  certo  desaprender  o  que  se

                   aprendeu;  não  saber  o  que  se  quer  que  se  aprenda  nem  com  fazê-lo...  ela  afirma
                   precisamente o valor do não saber, da busca do saber, consigo e com outros, de se arriscar

                   sem ver antes de ver, sem perceber antes de perceber.

                   Num mundo em que se busca condicionar cada vez mais a prática docente à questões
                   técnicas que o docente só seria capaz de primeiro dominar e depois aplicar, a improvisação

                   no ensino é uma contra-conduta com implicações revolucionárias em termos de prática e
                                    85
                   teoria educacional . Praticada nas escolas ela significa colocar de cabeça para baixo as
                   prioridades  educativas  e as  atuais  políticas  públicas  de formação docente que buscam
                   avaliar  as  aprendizagens  de  competências  a  partir  de  estándares  padronizados  e

                   conhecimentos  e  habilidades  previamente  estabelecidos.  Significa  reafirmar  o  caráter

                   artístico  do  ato  educativo  e  a  dimensão  educativa  da  filosofia  como  relação  ao  saber.
                   Comporta  dar  lugar  à  inventividade  do  fazer  educativo,  ao  ser  caráter  sensível  e

                   hospitaleiro. Fazer da improvisação uma dimensão insubstituível da vida docente supõe a
                   reafirmação do seu caráter artístico, contra-cultural e filosófico.



                   Ensinar a pensar antes de ler e escrever?

                   Aprender e ensinar a falar e a pensar estão, para Simón Rodríguez, antes do aprender e

                   ensinar a ler e a escrever: porque o ensino e a aprendizagem primeiros, mais significativos,



                   85  Santi, M. & Zorzi, E., op.cit.



                                                           83
   78   79   80   81   82   83   84   85   86   87   88