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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846
com o fazer o primeiro que vem na cabeça. Contudo, há que se distinguir entre preparação
e planificação, entre despreparo e abertura ao ainda não visto, entre fazer o primeiro que
vem e fazer o que os sentidos abertos trás uma longa preparação estão em condições de
acolher. Assim, como na música, é preciso muita preparação para poder improvisar de
forma interessante: muito exercício, muita prática, muita técnica apreendida para poder
se desprender dela e dar lugar à improvisação. Dessa forma, acontece a improvisação nas
artes, na música, na pintura, no teatro e na filosofia. Difícil de conceitualizar e de antecipar,
de natureza paradoxal como a própria filosofia, ensinar improvisando parece algo
impossível e ao mesmo tempo necessário para poder afirmar uma outra vida no campo das
instituições educacionais.
O professor ou professora improvisador, portanto, partilha como professor, as
características fundamentais de um filósofo: exige um certo desaprender o que se
aprendeu; não saber o que se quer que se aprenda nem com fazê-lo... ela afirma
precisamente o valor do não saber, da busca do saber, consigo e com outros, de se arriscar
sem ver antes de ver, sem perceber antes de perceber.
Num mundo em que se busca condicionar cada vez mais a prática docente à questões
técnicas que o docente só seria capaz de primeiro dominar e depois aplicar, a improvisação
no ensino é uma contra-conduta com implicações revolucionárias em termos de prática e
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teoria educacional . Praticada nas escolas ela significa colocar de cabeça para baixo as
prioridades educativas e as atuais políticas públicas de formação docente que buscam
avaliar as aprendizagens de competências a partir de estándares padronizados e
conhecimentos e habilidades previamente estabelecidos. Significa reafirmar o caráter
artístico do ato educativo e a dimensão educativa da filosofia como relação ao saber.
Comporta dar lugar à inventividade do fazer educativo, ao ser caráter sensível e
hospitaleiro. Fazer da improvisação uma dimensão insubstituível da vida docente supõe a
reafirmação do seu caráter artístico, contra-cultural e filosófico.
Ensinar a pensar antes de ler e escrever?
Aprender e ensinar a falar e a pensar estão, para Simón Rodríguez, antes do aprender e
ensinar a ler e a escrever: porque o ensino e a aprendizagem primeiros, mais significativos,
85 Santi, M. & Zorzi, E., op.cit.
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