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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846



                   estado de coisas fixo, repousado, mas busca, ao contrário, interromper e tornar impossível
                   a continuidade do que está sendo; a errância impede a fixação de um centro ou núcleo para

                   o  qual  todas  as  coisas  se  remeteriam;  para  um  professor  ou  professora,  errância  é
                   experienciar a ruptura e a revolução no campo dos saberes; c) o professor errante está

                   atento e aberto aos sinais do fora, do que demanda atenção: a errância é uma forma de
                   sensibilidade, de preocupação em relação ao fora, de ir atrás dos sinais que convocam a

                   atenção do exterior, em espacial, dos excluídos do sistema; d) o professor errante não sabe
                   mas deseja saber: ele é filó-sofo, não olha o mundo a partir de uma posição de saber, mas

                   sensível aos saberes do mundo e desejante desses saberes e do caminho que eles propõem

                   no pensamento; e) a professora errante afirma uma vida, um modo de vida para seus
                   alunos e para qualquer ser humano que o deseje. Na errância de uma professora a vida está
                   aberta a uma nova vida para todo e qualquer ser humano; ela tem vocação para todos e

                   pressupõe que todos estão em iguais condições de empreender a errância, o caminho

                   filosófico dos saberes; f) o professor errante não separa pensamento e vida, escrita e vida,
                   pensamento e corpo, escrita e corpo, corpo e vida. Ele joga o seu corpo no encontro com

                   outros corpos: joga corporalmente a vida para interromper a vida onde ela não é vida, para
                   permitir o nascimento de uma vida outra, nova, inexistente até o presente. Há um corpo

                   errando com outros corpos, um corpo se educando com outros corpos, um corpo que
                   busca saberes outros nos outros corpos.



                   Uma professora improvisadora

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                   Como afirma Santi , a improvisação só pode ser praticada no tempo presente e qualquer
                   tentativa de entendê-la antes de sua realização, de anticipá-la ou explicar a sua natureza,
                   parece fútil, infrutífera, e acima de tudo, prejudicial a seu modo de ser. A partir dessa

                   perspectiva, um discurso que tenta explica-la ou antecipa-la pode parecer contraditório.

                   Mesmo assim, corremos esse risco. Lembramos a etimologia da palavra improvisus, que
                   literalmente significa «não visto antes». Ou seja, «improvisar» teria a ver, na sua etimologia,
                   com não ver antes, não antecipar uma percepção, não ver antes de ver.


                   Sabemos que a improvisação costuma ter mala prensa em muitos âmbitos da vida social,
                   particularmente  na  educação  e  na  filosofia  institucionalizadas.  Porém,  essa  má  prensa

                   confunde, habitualmente, a improvisação com a espontaneidade, com a falta de preparo,


                   84  Santi, M., Improvisation, op.cit.



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