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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846
não são técnicos, mas reflexivos e só podem ser realizados em diálogo com outros. São,
em última instância, a aprendizagem e o ensino de uma vida pensante, cuidadosa, que se
examina a si mesma, de uma vida que merece ser vivida por todos os habitantes desta
terra. Seria como se aprender a filosofar fosse a porta de entrada para qualquer aprender
significativo. Como se quem aprendesse a filosofar tivesse depois condições para aprender
por si próprio qualquer outra coisa.
Hoje em dia, muitas vezes confunde-se a «filosofia para crianças» com o lema de uma
«educação para pensar». Mas o que se entende nessa expressão por pensamento? O que
se pretende ensinar quando se propõe uma educação que ensina as crianças a pensar? O
que significa, nesse contexto, pensar? Qual é a relação afirmada entre filosofar e pensar?
Consideramos que na forma em que foi aqui caracterizada a filosofia e o filosofar, pensar
seria pôr-se a caminho dos sentidos, problematizar o mundo, fazer que as palavras digam
algo mais do que estamos acostumados a afirmar a partir delas. Reinventar sentidos. Errar
no pensamento numa busca de outros pensamentos que nos levem a colocar em questão
o que «normalmente» se pensa. Em outras palavras, mostrar que o impossível é possível
ou que não há sentidos impossíveis para as palavras. Que tudo é possível quando se trata
de pensar.
Ao contrário, costuma-se considerar o pensar em função do pensamento lógico. Sim, há
no pensar inventivo e improvisador de uma professora uma relação com certa lógica do
pensar mas também existe uma relação profunda com o seu lado ilógico, com o não saber,
com o que não se pode esperar do pensar. Como já sugerimos, esse não saber não é uma
ignorância; é, antes, uma desobediência: desobedecer tudo o que obstaculiza ou impede
pensar. Ao contrário, quando o pensar obedece apenas o ritmo de uma lógica formal e do
saber estabelecido parece que, então, ele reproduz o já conhecido, o esperado, o possível.
De outro modo, quando o pensar dá lugar ao ilógico parece surgir a possibilidade do novo,
de um mundo que não é esperado nem esperável pelos que administram o estado das
coisas. Afinal, a invenção no pensamento de uma educadora precisa tanto da lógica quanto
da ilógica do pensar.
Mais ainda, apenas seguir a lógica consagrada do pensar pode significar reproduzir a
estrutura de dominação e extermínio que vem prevalecendo durante séculos na América
e no mundo. A lógica aprendida nas escolas e universidades pode ser um exemplo. Simón
Rodríguez oferece o caso das escolas monárquicas: aprendem-se muitas vezes habilidades
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