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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846



                   previamente  determinado.  E  entre  invenção  e  errar,  a  disjunção  «ou»  pode  querer
                   significar não uma alternativa excludente mas uma forma, a segunda, de exemplificar a

                   primeira. Assim, a errância pode ser um modo da invenção.

                   «Eu não quero parecer-me às árvores, que se enraízam em um lugar, mas ao vento, à água,
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                   ao  sol  e  a  todas  as  coisas  que  marcham  sem  parar»,  diz  Simón  Rodríguez   que,
                   efetivamente, anda sem parar. Considera que, para aprender e para ensinar, é importante

                   estar atento, e em movimento. Não esperar, nem ficar. Em movimento, estar atentamente
                   em movimento. Um professor ou uma professora são uma espécie de viajantes. Encontram

                   vida nas viagens, no estar de viagem, a caminho, entre dois pontos, os dois igualmente
                   insatisfatórios, como lugares de residência para alguém tão inquieto quanto um professor.


                   Estamos acostumados à imagem do professor como alguém firme, seguro, de pé em frente

                   da  sala  de  aula  transmitindo  seus  conhecimentos  aos  alunos.  Estamos  habituados  à
                   fortaleza  das  árvores.  A  imagem  se  estende  aos  alunos:  quanto  mais  concentrados  –

                   costuma-se dizer –, maior a probabilidade de um conhecimento mais sólido, de raízes mais

                   seguras. A fertilidade de imagens como a do  «Pensador» de L. Rodin são impactantes:
                   introspecção, concentração, quietude. Certamente não é assim que S. Rodríguez pensa um
                   professor o professora numa escola. Rodríguez faz escola viajando: é preciso andar para

                   ensinar.  Simón  Rodríguez  inventa  uma  figura  errante  de  educador,  a  errância  de  um

                   educador.

                   A errância do Sócrates de Caracas tem as seguintes características: a) embora comporte
                   efetivos deslocamentos no espaço e no tempo, a errância de uma professora tem mais a

                   ver  com  uma  intensidade  do  que  com  uma  extensão  no  deslocamento:  sua  forma
                   específica se encontra mais na qualidade do movimento do que na quantidade deslizada;

                   ela está mais em sua espessura do que em seu comprimento, mais na densidade do que na
                   dilatação; a errância, por fim, encontra-se mais na intimidade da relação que se afirma do

                   que em sua generalidade; assim, um professor pode errar sem sair do lugar numa sala de
                   aula  e  compartilhar  assim  sua  errância  com  seus  estudantes  sem  sair  de  um  mesmo

                   assunto; ao contrário, alguém pode viajar, como um turista, simplesmente para fortalecer
                   o mesmo lugar onde se encontra; b) uma professora errante não se conforma com um



                   83  Amunátegui, M.L., Ensayos Biográficos, Santiago de Chile: Imprenta Nacional, Tomo IV, 1896, p.
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