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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846



                   movimentos. Corpo e pensamento ficam congelados em qualquer forma em que estejam
                   e então à ordem de «Pensem!» os participantes falarão tudo o que puderem expressar que

                   estava  retido  nos  seus  pensamentos.  Pensamentos  serão  exteriorizados  na  forma  de
                   palavras. Diz Boal: «(...) deverão permitir que seu corpo pense, que pense em sua posição

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                   no espaço e também em relação aos outros corpos, às outras pessoas e aos objetos» .
                   Depois, a ação de improvisação é retomada. O exercício terá cumprido seu cometido, qual

                   seja, o de permitir ou ajudar a  «verbalizar e, consequentemente, a transmitir, a tornar
                                                                                      90
                   compreensível o que estava oculto, ou diluído, ou ainda não perceptível» .


                   Corpo e pensamento, teatro e filosofia

                   O exercício proposto por Boal «Parem e Pensem!» visa trazer a luz parte do mundo do
                   pensamento. Ele procura fazer explícito ou implícito; mostrar à luz da superfície o que de

                   outra forma ficaria oculto na trama do mundo interior de uma pessoa. O faz a partir da
                   improvisação de certos movimentos corporais. O teatrólogo não parece, a princípio, muito

                   preocupado  no  depois  dessa  manifestação  talvez  por  considerar  já  ela  potente  e
                   reveladora. Talvez justamente por tratar-se de emergência de pensamentos, a filosofia

                   veria uma oportunidade de intervenção, pelo menos em sua dimensão mais questionadora
                   e dialógica, tal como aqui foi apresentada, e que diz respeito a seu desejo ou busca de

                   saber: por que pensamos o que pensamos? Por que alguns pensamentos se expressam
                   facilmente enquanto outros não conseguem sair a luz tão nitidamente? O que podemos

                   pensar a partir do que estávamos pensando e não conseguíamos manifestar? As perguntas
                   continuariam até o infinito. Não se trata de esgotá-las. Apenas de apresentar amostras de

                   um  caminho  por  transitar  quando  se  abre  espaço  à  problematização  filosófica  do  que
                   pensamos.


                   Como o teatro, o diálogo filosófico também pode ser propiciado e dinamizado a partir de
                   uma  série  de  técnicas  ou  exercícios.  Apresento  rapidamente  uma  delas,  aprendida,

                   justamente, de cursos de formação oferecidos por R. Sassone, a quem já mencionamos.
                   Lemos «As três metamorfose» do Assim falou Zarathustra de F. Nietzsche. Realizamos

                   exercícios  corporais  a  partir  de  algumas  das  metamorfoses  do  espírito:  camelo,  leão,
                   criança. Representamos formas diversas de metamorfoses de maneira individual e grupal.


                   89  Ibid., p. 74, itálico do autor.

                   90  Ibid.



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