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Amechanon, Vol. I / 2016-2018, ISSN: 2459-2846



                   Voltamos a ler o texto de Nietzsche. Colocamos em questão o que ele gera em nós depois
                   de ter realizado exercícios corporais diferentemente da primeira leitura. Problematizamos

                   algum aspecto de texto que chame nossa atenção. Liberamos o pensamento, provocados
                   pela  escrita  filosófica.  Embarcamo-nos  numa  viagem  coletiva,  atentos  ao  que  outros

                   pensam e nos fazem pensar. Colocamos em questão o que sabemos e o que pensamos.

                   Trata-se, em um e outro caso, apenas de exemplos sintéticos que mostram a proximidade,

                   complementariedade,  caminho  compartilhado  de  exercícios  teatrais  e  filosóficos.  É
                   verdade:  a  filosofia  tal  como  ela  é  praticada  dominantemente  na  academia  tem  se

                   distanciado do corpo, virado as costas para ele. Os efeitos desse movimento são poucas
                   vezes considerados. A filosofia prática aqui apresentada é inseparável do corpo: ela não

                   pode ser exercitada sem os a presença ativa dos corpos dos participantes, como se ela
                   fosse um teatro de corpos pensando juntos.


                   Apresentamos uma visão da filosofia como desejo, afeto, paixão pelo saber. Consideramos

                   ela de mãos dadas com uma função educadora inventiva, qual seja, uma que se manifesta

                   aberta ao exterior, ao não pensado, ao não sabido. Vimos como ela exige uma errância
                   educadora,  um  sair  do  lugar  que  se  habita  para  habitar  outros  lugares.  Por  fim,
                   encontramos na improvisação uma prática artística propiciadora de pensamento. Demos

                   com  um  exemplo  específico  do  Arco  Íris  do  Desejo  que  mostra  a  proximidade,

                   complementariedade entre teatro e filosofia.

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                   Deleuze  se  perguntava  insistentemente,  com  Spinoza,  o  que  pode  um  corpo .  Não  o
                   sabemos  e,  talvez,  nunca  possamos  sabê-lo.  Mas  a  insistência  da  pergunta  chama  a

                   atenção para o modo em que vivemos a filosofia. Não sabemos o que pode um corpo, mas
                   suspeitamente dos efeitos de ocultar o corpo ao pensamento e a consequente importância

                   de colocar o corpo vivamente no pensamento, de trazer o corpo para pensar ou, dito de
                   outra  forma,  de  pensar  corporalmente  quando  ensinamos  filosofia  ou,  de  modo  mais

                   amplo, quando exploramos a dimensão filosófica de uma prática educativa.







                   91  Por exemplo: Deleuze, F., & Guattari, F., Mille Plateaux: Capitalisme et Schizophrénie, Paris: Les
                    Éditions de Minuit, 1980, p. 312.



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